Quando tinha apenas 16 anos, Juliana de Cornillon teve a seguinte visão: “A lua no seu pleno esplendor, com uma faixa escura que a atravessava diametralmente”. O Papa Bento XVI diz que “O Senhor a fez compreender o significado disso que lhe havia aparecido. A lua simbolizava a vida da Igreja sobre a terra, a linha opaca representava, por sua vez, a ausência de uma festa litúrgica, para a instituição da qual era pedido a Juliana que trabalhasse de modo eficaz.
Assim foi como deu-se o início da festa que estamos celebrando mais uma vez. Ela data do século XII, ou seja, uns 900 anos atrás. Desde sua fundação, alguns costumes foram sendo incorporados, mas sua essência permanece a mesma: uma festa na qual os fiéis podem “adorar a Eucaristia para aumentar a fé, avançar na prática das virtudes e reparar as ofensas ao Santíssimo Sacramento” (Papa Bento XVI). Uma frase da escritura que a Santa de Cornillion repetia consigo muitas vezes resume bem o que Deus quer que tenhamos presente com essa solenidade: “Eis que estou convosco todos os dias, até o fim do mundo” (Mt 28, 20).
Essa é uma data para recordar exatamente essa presença de Cristo no meio de nós de forma sacramental, verdadeira. Se já naquela época se experimentava uma necessidade de reafirmar o valor central da Eucaristia, o que podemos pensar nos dias de hoje? Muitas vezes o Santíssimo Sacramento está nos esperando na capela com mais abandono que adoração, como nos lembra uma oração de Santo Afonso Maria de Ligório: “Eu vos saúdo, com intenção de adorar-vos, nesta visita, em todos os lugares da terra onde vossa presença sacramental estais menos reverenciada e em maior abandono”.
Hoje é comum e muito bonito de ver as preparações que se fazem pelo Brasil de tapetes para que o Santíssimo Sacramento, com o seu povo, passe em procissão fora da Igreja. Com muita dedicação trabalham-se horas e horas para que Jesus possa transitar por um lugar mais digno. É um momento de fé e devoção querido por Deus, como vimos acima, e que precisa passar do exterior para o interior. Melhor ainda, precisa ser uma alimentação mútua na qual o interior piedoso se faz visível nos tapetes e na devoção e, por sua vez, o exterior faz crescer o fervor interior e o espalha para corações que ainda não ardem no amor de Cristo.
Que a solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo faça crescer em nós a consciência de que Deus não nos abandona nem um segundo em nossas vidas, mas que, pelo contrário, com sua presença misteriosa na Eucaristia continua guiando nossas vidas bem de perto, sobretudo pedindo que o reconheçamos e que o amemos debaixo desse aspecto de pão que “esconde” o próprio Deus Vivo e verdadeiro.